21/01/2015

Inocente Demetria - 7º Capítulo


Magestic Incorporated, Dallas, TX

Joseph estava sentado em sua cadeira lendo uns documentos quando escutou alguém bater na porta.
— Entre! — Ordenou. Viu Ashley entrar e suspirou. Não estava com a mínima paciência para os dramas da assistente irritante. — O que você quer Ashley?
— Quero saber porque me trata com tanta arrogância. Desde que você ficou envolvido nessa história de encontrar a neta de Jason que você ficou estranho.

Joseph riu do quão ridícula Ashley estava sendo e levantou-se indo até à garrafeira para servir um copo de whiskey.
Quem você acha que é Ashley? Minha mulher? Você é apenas minha assistente. O que tivemos foi um caso de uma noite só, não se vai repetir. Nós não vamos casar e muito menos viver felizes para sempre. Lide com isso.
— Isso quer dizer que...
— Ashley, apenas faça o seu trabalho sem me importunar.
Ashley não disse mais nada, caminhou até à porta e preparou-se para sair, mas foi impedida antes que pudesse.
Tem mais uma coisa antes de você ir. — Disse com um tom de voz que fez Ashley prestar atenção no mesmo instante. — Se eu vejo mais alguma atitude daquelas com Demetria, a mulher que você ofendeu ainda há pouco, você vai passar a estar no desemprego. Ao contrário do que outras pessoas pensam, eu sei a víbora que você é. Você pode até mesmo ignora-la, mas se eu a vir ofendendo-a mais alguma vez, você vai se arrepender de ter vindo trabalhar comigo, entendeu?
— Entendi sim. Desculpe. — Pediu apressada.
— Não é comigo que tem que se desculpar. — Cortou.
Mas… Demetria ainda não saiu do escritório de Jason.
Joseph franziu o cenho confuso. Como assim Demetria ainda não tinha saído do escritório? Já se tinham passado horas.
— Joseph, você sabe onde estão aqueles contratos das empresas Francesas? — Perguntou Austin entrando porta adentro com os olhos postos em seu smartphone. Como não obteve uma resposta curta e grossa como esperava, levantou a cabeça e viu a expressão confusa no rosto de Joseph. — Algo errado?
— Ashley, saia. — Ordenou Joseph num tom de voz autoritário. Assim que a mulher saiu do escritório e fechou a porta, Joseph respirou fundo.
— Resolveu te perturbar? — Perguntou Austin divertido enquanto apontava para a porta. — Não me diga que ela é um problema.
— Não, ela é tão insignificante que não chega a ter importância suficiente para se considerar um problema. Já Demetria é um grande problema.
— O que significa que ela tem uma grande importância na sua vida. Gostei disso Jonas.
— Deixa de ser imbecil Austin.
— Eu só estou seguindo o seu raciocínio. Não me venha culpar por suas palavras. — Disse fingindo inocência.
— Então qual é esse raciocínio?
— Você já foi mais inteligente Joseph. Presta atenção, se a Ashley é insignificante para ter importância para chegar a ser um problema, então a Demetria significa muito, o que faz com que ela tenha importância para ser um problema. Se ela é um grande problema, ela tem uma grande importância. Entendeu?
— Eu nem me vou dar ao trabalho de responder a isso Austin.
— Qual é Jonas! É difícil admitir que ela é importante pra você de alguma maneira? Eu vi você olhando-a enquanto ela dormia na viagem de avião. Não é possível que você tenha assim tanta raiva dela. Não tem motivo para isso.
Joseph olhou-o pelo canto do olho e soltou um suspiro. Desde que Jason se fora que ele não tinha um amigo para conversar sobre algo que não seja trabalho. Sabia que podia confiar em Austin. Apesar de nunca terem tido uma amizade como ele tinha com Jason, estava na hora de dar uma oportunidade.
— Não quero que construa histórias na sua cabeça. As atitudes que tenho tido com ela são por um motivo e eu não vou mudar isso. Vou continuar a pisá-la, humilha-la até conseguir o que quero, mas não posso negar que ela é sim um pouco importante. Jason pediu-me para que eu cuidasse dela como se ela fosse a coisa mais frágil do mundo, mas ela não aparenta precisar de cuidados. Ela é tudo menos frágil e a prova é que ela é a única que me desafia dentro desta empresa e fora dela. Ela não me respeita e não me suporta. É determinada e sabe aquilo que quer, e ainda sabe dar a volta por cima dos problemas.
— Resumindo, ela é tudo o que você não queria acreditar que fosse. Eu te avisei que a gente não a conhecia para julgá-la. As roupas que ela usa são o menos. Ela é uma pessoa humilde Joseph. E você tinha os pensamentos errados.
— Talvez, mas ainda posso estar certo. Ainda é cedo para tirar qualquer conclusão. Ela só…
— Deixa você confuso? — Interrompeu de braços cruzados sobre o peito.
Joseph olhou-o e assentiu e pela primeira vez, Austin pode ver um Joseph diferente. Não era aquele Joseph durão com o qual lidava todos os dias, era um Joseph com uma muralha destruída, indefeso. Joseph percebeu o silêncio de Austin e logo se recompôs.
Austin sorriu e olhou para a mesa de Joseph que estava coberta de papéis.
— Demetria não ia trabalhar com você? Onde ela está? — Perguntou confuso.
— Ela estava a vir para o meu escritório quando teve um confronto com Ashley. Não foi bonito e Demetria acabou apenas sorrindo e dando costas em direção ao antigo escritório de Jason. Era o avô dela e por isso deixei que ela tivesse seu espaço. Mas Ashley comunicou-me que Demetria está trancada lá dentro desde então. Já fazem horas. Ia ver o que se passava quando você apareceu.
— Então vamos logo.
Joseph deixou o copo em cima da mesa de centro perto dos sofás e caminhou até à porta, sendo seguido por Austin. Chegaram perto da porta e bateram. Ouviram uma voz suave ordenando para que entrassem e assim fizeram.
Joseph esperava encontrar uma Demetria de olhos vermelhos e cara inchada pelo choro da humilhação, mas o que encontrou foi totalmente o contrário do que previa.
— Olá de novo Austin. Ainda bem que é você. Preciso que me diga como está a situação do financiamento para a nova filial em Washington, é você que está dentro do assunto não é? A maior parte desses documentos estão assinados por você. — Disse depois de olhá-los brevemente e voltar a olhar para os documentos em cima da mesa. — Ah, e Joseph, era você e Jason que estavam dentro do negócio com a RG, na Itália, certo? Eles estão interessados no nosso software e por isso concordaram em assinar a colaboração entre as duas empresas. Jason já tinha o acordo praticamente fechado. Só falta você fazer a sua parte que eu desconheço. Era bom que me colocasse a par da situação.
— Demetria, você está bem? — Perguntou Austin cautelosamente enquanto se aproximava da mesa dela como se quem se aproxima de um leão feroz.
— Estou ótima, obrigada por perguntar. — Respondeu sorrindo. — Meu avô era realmente um homem inteligente. Ele deixou quase tudo pronto para mim.
— O que quer dizer? E como teve acesso a esses documentos e ao computador dele. Ninguém conhece as passwords. — Falou Joseph surpreso. Nem mesmo ele conseguia aceder àquele tipo de documentação.
— Volto a repetir Joseph, Jason era um homem inteligente e você com certeza sabe disso. Ele deixou códigos e passwords, todos em um único sitio. Ele sabia que eu os acharia.
— Onde encontrou? No cofre dele? — Perguntou Austin, igualmente surpreso.
— Tem um cofre? — Agora era Demetria que estava surpresa. Parece que seu avô tinha guardado mais para ela do que aquilo que ela mesma esperava. Pela segunda vez.
— Sim, tem. Mas ninguém tem acesso a ele. — Respondeu Joseph se aproximando tanto como Austin. — Como descobriu? — Perguntou de novo. Estava curioso para saber que artimanhas Jason tinha usado. Sempre se divertira com os enigmas e segredos do amigo.
— Vocês são homens importantes na sociedade. São magnatas e estão mais que habituados a ter tudo o que bem entendem. — Disse naturalmente. Viu os dois homens confusos à sua frente e sorriu. — Joseph tem raiva de mim por eu não ser como as mulheres que ele costuma lidar. Não gasto milhares de dólares em roupas ou futilidades, sou humilde, honesta e sei como é a realidade fora destes padrões de alta sociedade. Eu cresci num bairro de New Jersey. Agora olhem à vossa volta. Se fossem vocês, onde esconderiam os códigos?
— Esconderia na garrafeira de cristal. Ela pode ter um compartimento falso e Jason apreciava uma boa bebida. Não que ele bebesse constantemente, mas… Apenas apreciava. — Respondeu Austin orgulhoso.
— Errado. — Disse Demetria rindo. — Eu não via meu avô desde que tinha uns seis ou sete anos. Se o vi depois disso, bem, não foi recentemente. Ele tinha esta fazenda aqui em Dallas, onde eu morei antes e ele sempre me levava para andar de cavalo com ele. Ele amava cavalos.
— Sim, ele amava isso. Sempre íamos nas corridas de cavalos quando tínhamos um tempo livre. — Comentou Joseph perdido em memórias.
— Como eu dizia, ele podia ser o homem que era antes de morrer, mas sempre foi apaixonado pelas coisas simples. E parece-me que não cortou relações com o passado.
— O que quer dizer? — Perguntou Austin.
— Eu e meu avô tínhamos a mania de escrever nas costas de cada fotografia ou qualquer outra imagem que tínhamos. Eu era muito pequena e ainda não sabia escrever muito bem, mas lembro de que conseguia desenhar e me expressava com ele através de pequenos desenhos. Observem. — Falou levantando-se e caminhando até à parede próxima da Joseph.
— Este é um quadro que vocês possivelmente ignoram sempre que entram neste escritório, mas não eu. — Falou apontando para um quadro pregado na parede que mostrava dois cavalos puro-sangue negros correndo por um prado verde. — Meu avô amava cavalos e eu aprendi a gostar deles com ele. Ele sempre soube que assim que eu pusesse os pés neste escritório, a única coisa que iria chamar minha atenção seriam esse quadro e a fotografia na moldura em cima da mesa. E como os velhos hábitos não se perdem… — Falou pegando o quadro da parede virando-o ao contrário. Joseph aproximou-se e observou fascinado a parte de trás do quadro. — Ele escreveu os códigos aqui. — Falou indicando os números na beirada do quadro. — Ele sabia desde o início que magnatas como vocês nunca iriam pensar nisso. São fúteis demais para que possam pensar no simples. Mas sabia que eu ia chegar lá. — Disse por fim colocando o quadro de volta na parede e voltando para a mesa. — A mesma coisa acontece com esta fotografia. Esta mulher é minha avó, nunca cheguei a conhecê-la, mas sempre ouvi coisas muito boas sobre ela. O que ele fez no quadro, também fez na fotografia.
Demetria sorriu olhando a fotografia e em seguida desviou o olhar para os homens à sua frente.
— Eu amo o tio Jason. — Disse Austin com uma cara de retardado que fez Demetria gargalhar.
— Ele sempre soube o que faz. Mas você disse que ele deixou quase tudo pronto pra você, como assim?
— Ele deixou contratos antigos, novos, pendentes e futuros prontos para que eu me guiasse. Deixou um breve histórico das melhores negociações já feitas e deixou tudo organizado de maneira a que eu me adaptasse rapidamente. Ele não quer que eu perca tempo a explorar o desnecessário. Ele quer que eu siga as pisadas dele, no topo.
Austin sorriu, foi até Demetria e logo se envolveram no trabalho. Joseph observou-a e sorriu brevemente antes de se juntar a eles. Demetria surpreendera-o e isso deixou-o sem palavras pela primeira vez em bastantes anos.
Ficaram a tarde toda envolvidos no trabalho até que chegou o final do dia e os funcionários começaram a ir embora, incluindo os chefes.
— Bem, eu já vou indo. Terminei tudo por hoje e o que me falta posso fazer em casa. — Falou Austin acabando de arrumar suas coisas.
— Tudo bem. Eu também já vou. Tenho que tratar de umas coisas em casa. — Adicionou Joseph.
— Eu vou ficar mais um pouco. Vou acabar de revisar estes contratos que faltam.
— Demetria, o fato de ser presidente desta empresa não quer dizer que tenha que ficar depois do horário de trabalho. Isso pode ser feito amanhã.
— Não tem problema Austin. Eu ia para o hotel e ficaria sem nada pra fazer mesmo. — Disse dando de ombros.
— Tudo bem então. Fica bem ta?— Perguntou Austin aproximando-se e beijando-lhe a testa. Demetria sorriu com o gesto mas ficou confusa com a demonstração de afeto. Assentiu e viu-o caminhar até Joseph. — Descemos juntos? Estacionei perto do seu carro.
— Pode ir, vou ficar mais um pouco e depois vou. Preciso falar com Demetria.
— Tudo bem. Demetria. — Chamou antes de se retirar do escritório. Demetria olhou-o e sorriu. — Ótimo começo. — Falou piscando o olho. — Ah, Joseph, quando eu chegar amanhã ao trabalho, espero que o edifício não esteja em cinzas. Sabe como é, vocês dois pegam fogo e... — Austin interrompeu-se quando viu o olhar ameaçador de Joseph e sorriu amarelo. Demetria sentiu-se corar. — E... Fui!
Querendo eliminar o ambiente estranho que se tinha mantido entre ela e Joseph por causa de Austin, Demetria recorreu ao trabalho.
— Já que ficou mais um pouco pode me dizer porque esse contrato já está quase fechado, mas não oficializado? O que está impedindo?
— Não tente mudar o clima que Austin fez questão de deixar. Você não é boa nisso. Você não me engana Lovato, não é possível que não tenha derramado uma única lágrima depois da humilhação que Ashley a fez passar. Você não é assim tão forte.
— Porque se importa? — Perguntou encarando-o séria.
— Tem mais coisas do que você pode imaginar no meio de tudo isso. — Falou sustentando o olhar dela.
Demetria olhou bem naqueles olhos castanho mel e sentiu-se aquecer por dentro. Estava se amaldiçoando por deixar algo assim acontecer, mas sentia que não tinha o controlo. Joseph estava demasiado perto, mesmo estando do outro lado da mesa, e o cheiro de seu perfume era inebriante.
— Então está admitindo que se importa? — Perguntou baixinho. Sabia que estava escolhendo o caminho errado nesta conversa com Joseph, mas não podia evitar a pergunta.
— Admito que me importo com o futuro desta empresa, o que já não é novidade para ninguém, você é apenas um detalhe no meio de vários. — Respondeu prontamente sem olhá-la nos olhos.
Demetria sentiu um pequeno nó a formar-se na garganta, mas logo tratou de se recompor. Não entendia as reações que tinha perto de Joseph. Ele conseguia irritá-la e ao mesmo tempo conseguia fazer com que seu corpo tivesse reações que ela não estava segura se gostava. Era insano.
— Sabe, você tem uma vantagem por tudo o que o seu avô lhe deixou preparado, mas ainda tem muito que aprender. — Demetria sentiu que podia respirar fundo e agradeceu pela mudança repentina de assunto.
— Como por exemplo? — Perguntou interessada.
— Você é pura Demetria? — Demetria arregalou os olhos com a pergunta e sentiu-se enrubescer.
— Co... Como assim? — Gaguejou.
— Você é virgem? — Perguntou agora impaciente.
— Isso não lhe diz respeito! — Respondeu indignada sem olhá-lo. Era embaraçoso de mais.
— Com essa resposta posso concluir que o seja. E isso explica muita coisa. — Murmorou agora analisando-a.
— O que quer dizer? — Perguntou ofendida.
— Quero dizer que é uma mulher puritana, literalmente, e que não sabe usar as armas que tem. E ao contrário do que possa imaginar, eu sei o tipo de assistente que tenho. Ela é falsa, mas não inteligente para me enganar. Ashley foi repreendida pelo comportamento que teve com você, e antes que pergunte o porquê de alguém assim trabalhar pra mim, eu respondo que é pelo seu corpo e pela roupa maravilhosa que ela sabe escolher. Ela é sedutora e isso é bom para o negócio. É necessário.
— Como? Pode explicar isso? — Pediu agora horrorizada.
— É Ashley que recebe os futuros colaboradores quando há uma reunião. É ela que lhes oferece o café ou qualquer outra coisa que os deixe satisfeitos. Ela é uma mulher bonita e isso chama a atenção deles. Causa uma boa impressão dela mesma e da empresa por a ter contratado. Dar uma boa impressão é meio caminho andado para um negócio garantido. Você poderia, como eu disse anteriormente, usar as armas que tem.
— Eu não acredito nisto. Está dizendo que ela os seduz para que os convença mais facilmente a aceitar a colaboração?
— Não é proposital Demetria. É algo natural dela. Ninguém lhe pede para andar com decotes exagerados pelos corredores das salas de reuniões. Ela faz porque gosta de ser o centro das atenções no meio masculino.
— Mas eu não gosto de chamar a atenção.
— Mas precisa. Como presidente desta empresa e como mulher que é.
— Ashley tem um corpo bonito e notável pelas roupas justas que usa. Eu visto o contrário dela, como sabe se eu sou capaz de ser como ela? Ou se quero ser como ela? — Perguntou e arrependeu-se amargamente quando viu Joseph aproximar-se da cadeira onde estava sentada. Não acreditava que tinha entrado naquela conversa, mas o que Joseph dissera fazia sentido, os colaboradores davam importância a uma mulher que chamasse a atenção. Infelizmente.
Demetria sentiu respiração quente no seu pescoço e viu pelo canto do olho, os olhos castanho mel de Joseph.
— Toda a mulher é bonita e deve sentir-se bonita. Você aparenta ser uma mulher que nunca foi tocada por um homem. Mas acrescento já que se foi, não foi com o devido valor. Valorize-se Demetria. Mostre quem pode ser. Mostre que pode ter poder e comandará esta empresa com a maior facilidade do mundo. — Sussurrou bem perto de seu ouvido. Demetria sentiu-se arrepiar. — Boa noite Demetria.
E com isto, saiu do escritório deixando-a confusa e pensativa.

Mansão Jonas, Dallas, TX

Joseph acabara de chegar a casa e estranhou o fato de esta estar tão silenciosa. Subiu até ao seu quarto e pousou suas coisas perto da cama. Tirou sua roupa no quarto e caminhou até ao chuveiro do banheiro querendo apenas relaxar depois do dia que tivera. Sabia que ainda trabalharia mais em seu escritório, mas sabia também que lá não teria qualquer perturbação.
Quando terminou, vestiu uma roupa confortável e caminhou até ao andar de baixo. Eram quase sete da noite e ele queria jantar mais cedo naquele dia. Foi até à cozinha e encontrou Maria cozinhando.
— Vejo que chegou cedo hoje. — Comentou a empregada depois de o olhar.
Foi um dia cheio, mas não foi necessário ficar até muito tarde.
— Sempre é. — Murmurou Maria cortando os ingredientes.
— O que disse? — Perguntou Joseph.
— Sabe que dia é hoje Joseph? Sabe qual é a importância dele?
— Hoje é um dia como outro qualquer.
— Realmente tem razão. Hoje é apenas mais um dia em que Beth tenta chamar sua atenção.
Joseph sabia do que ela falava, mas não podia. Era doloroso. Passou as mãos nervosamente pelos cabelos e suspirou.
— Maria você sabe que…
— Não é desculpa Joseph. — Interrompeu. — Ela depende de você. Coloque isso na sua cabeça.
— O que você quer que eu faça? — Perguntou exasperado.
— Vá vê-la, fale com ela, brinque com ela, veja-a crescer e orgulhe-se dela. Lembra daquela noite em que fui até ao seu escritório para que assinasse aqueles papéis? — Sua voz calma contrastava com as palavras que dizia.
— Lembro sim. Eram de um concurso de soletração. Fiquei orgulhoso por ela ter sido selecionada. — Sorriu.
— Esse concurso foi hoje. — Falou acusadoramente. — Você não foi. Nem sequer lembrou. Desejou-lhe boa sorte mesmo não podendo ir?
Joseph não respondeu. Sabia que estava errado e agora não sabia o que fazer para concertar.
— Como foi? — Murmurou.
— Já foi ao seu escritório hoje? Ela deixou o resultado lá pra que você visse.
Joseph negou e encaminhou-se à saída para ir até seu escritório. Foi impedido antes que o fizesse.
— Beth não quer descer para comer. Diz que está cansada e só quer dormir. Faça o que tem que fazer.
Joseph estava agora sentado em sua cadeira confortável com um prémio em forma de ABC de primeiro lugar de um concurso de soletração. Chorava que nem um bebe e queria ter raiva dele mesmo por deixar essa fraqueza à vista de quem quer que fosse. O pequeno bilhete que acompanhava o prémio dizia:

Dedico este prémio para:
O papai. Te amo.
- Elizabeth Jonas.

Claramente a letra não era de sua pequena, mas a mensagem mostrara claramente que tinha sido ela quem o dissera. Isso fazia com que Joseph se sentisse o homem mais orgulhoso do mundo ao mesmo tempo que o fazia sentir-se um lixo.
Sem pensar duas vezes limpou as lágrimas e sem largar o prémio, caminhou para fora do escritório. Deu duas batidas na porta e ouviu uma voz frágil de criança dizendo para que entrasse. Entrou lentamente e surpreendeu-se ao perceber o tempo que não entrava ali. Tinha saudades.
Viu a prateleira cheia de bonecas de colecção e viu o grande urso que tinha comprado fazia dois anos junto à cama. A pequena de olhos castanho mel e de cabelos compridos, ondulados e negros, estava deitada na cama. O quarto estava escuro e a única luz que permitia Joseph ver alguma coisa, era a luz do abajur na mesa de cabeceira perto da cama.
Aproximou-se e pousou o prémio em cima da mesinha enquanto se sentava na beirada da cama. Elizabeth estava de pijama e banho tomado e estava claramente cansada e assustada.
— Me desculpa ter entrado no seu escritório. — Disse apressadamente. — Eu sei que o senhor não gosta mas…
— Shhh, tudo bem meu anjo. — Acariciou os cabelos macios e sentiu que ela se encolhera um pouco. — Está com medo de mim? — A possibilidade aterrorizava-o. Ele causara isso.
— Não. Só estou com frio. — Respondeu sorrindo fraco. Joseph sorriu para ela e recebeu um grande sorriso em resposta.
— Porque colocou o seu prémio em minha mesa Elizabeth? — Perguntou baixinho. Dentro daquelas quatro paredes não existia o Joseph poderoso ou o magnata. Era apenas o Joseph pai.
— Porque eu queria dar a você, queria que você soubesse e que se orgulhasse de mim. — Joseph fechou os olhos e sorriu. Era o pior pai do mundo e mesmo assim recebia o carinho da filha. Abriu os braços e Elizabeth aconchegou-se imediatamente em seu colo com os pequenos braços em volta de sua cintura. — Eu senti sua falta. — Sussurrou com a cabeça pousada no peito de Joseph.
— Eu sei meu amor, eu sei. — Ficaram vários minutos abraçados, com Joseph acariciando os cabelos de sua pequena e se lembrando de cada momento que tivera com ela. Mesmo não sendo muitos. — Estou orgulhoso de você, princesa.
— Sério? — Perguntou a pequena levantando a cabeça e mostrando os olhos brilhando de felicidade. Joseph assentiu.
— Tenho a certeza de que mereceu aquele prémio melhor que ninguém. Você tem um nome de rainha. Nasceu para brilhar Elizabeth. Nunca deixe que lhe tirem aquilo que mais ama, entendeu? — Perguntou ternamente acariciando o rosto da filha.
— Entendi. Por isso que nunca vou deixar que tirem você de mim. Eu te amo papai. — Disse voltando a enroscar-se no peito de Joseph.
— Papai também te ama Beth. — Sussurrou olhando a noite pela janela.

1 comentário:

  1. flavinha, como prometido >https://www.google.com.br/search?q=brigadeiro&biw=1242&bih=606&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=TuHAVNSHDcingwSOyoOwBA&ved=0CAYQ_AUoAQ
    tera que se contentar com esses pois mora muito longe pra que eu te de os reais.
    ja falei que amo essa fic? esta no mesmo nivel de Fiz sexo com uma nerd.. que alias ta salvo bonitinho comigo
    postaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

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