02/07/2014

Como se Apaixonar em 40 Dias - Prólogo


Eu não podia esperar menos vindo de James Lovato. Já sentia a falta de receber uma bomba como esta em minhas mãos. Não no sentido literal da palavra, mas sim no impacto que isso vai causar na minha vida. Os almoços de família ao domingo não deviam ser assim, tão atribulados. Deviam ser alegres, espontâneos ou apenas normais.
Bem, nesta casa não é possível ser-se normal.
— Não pai! Isso não vai acontecer! — Exclamei enquanto me levantava de uma das cadeiras de madeira. O que o meu pai me pedia era um absurdo.
— Porque não Demi? São apenas alguns dias. — Insistiu.
— Quarenta dias! — Reclamei indignada. Estava no meu direito. — Eu não vou cuidar de Joseph Jonas nem por vinte e quatro horas. Ele é o garoto mais mimado que eu alguma vez conheci. E olhe que eu conheci vários como ele. — Acrescentei para afirmar a minha ideia.
— Ele já não é um garoto, tem vinte e três anos. — Explicou como se isso mudasse a realidade de alguma forma.
— Pelo que me falas-te ele abandonou a faculdade de medicina, namora uma rapariga diferente todas as semanas, tem gostos bastante extravagantes, faz festas na sua mansão que duram até ao fim dos tempos e adora fazer uma cena épica em reuniões de família. Acredita pai, ele é um garoto mimado! — Afirmei cruzando os braços. — Eu não sei quem é que morreria primeiro, se seria ele por estar fora do seu habitat natural ou se seria eu por não conseguir aturá-lo.
— Podes dizer-me por que te custa tanto assim fazer esse favor ao teu pai? — Como ele é capaz de puxar para o lado paternal?
— Oh não. Não, não, não! Não vás por esse lado. Não vás para o lado paternal comigo. Eu não caio nessa, senhor Lovato. Eu tenho uma vida! Tenho um trabalho, tenho amigos e tenho namorado! Já pensas-te em como vou explicar ao Travis o fato de ter outro homem a viver em minha casa e a invadir a minha rotina?
— Tenho a certeza que ele vai entender. Travis é um rapaz compreensivo. — Ah claro! Logo o Travis! — Por favor, Demi. São só quarenta dias. Apenas isso.
— Porquê quarenta dias afinal? — Perguntei confusa. — Não podia ser um mês? Ou uma semana?
— Anabeth acha que esse é o tempo necessário para fazê-lo ver as coisas como elas são. Ela só quer acordá-lo para a vida.
Olhei o ser há minha frente e massageei as têmporas. O que o meu pai estava pedindo era surreal. Como é que ele teve aquela ideia? Cuidar de Joseph Jonas? Ser sua ama-seca? Ainda por cima na minha própria casa? É ridículo!
— Por favor, Demi. — Pediu com um meio sorriso.
O meu pai sabe ser convincente. Isso é um facto. Antes que o meu cérebro pudesse processar tudo o que podia vir a acontecer com Joseph na minha casa dei por mim a aceitar aquela loucura. Só me resta pensar pelo lado positivo. São apenas quarenta dias.

-----

— Pai, eu já vou para casa. — Avisei quando terminei de arrumar a cozinha. Homens nunca sabem lidar cem por cento bem com um território feminino e desde que a minha mãe faleceu, bem, dá para imaginar no que dá quando o homem se encontra sozinho.
— Não podes ir ainda. — Disse enquanto me puxava para sentar ao lado dele no sofá.
— Porque não? — Perguntei confusa.
— Porque estamos à espera de visitas e preciso de ti aqui. — Respondeu simplesmente.
Antes que eu pudesse perguntar quem eram as visitas, ouvi o tocar da campainha da casa. Preparei-me para levantar e abrir a porta, mas o senhor Lovato tomou a frente e fê-lo por mim. Não demorou muito e ouvi uma voz conhecida.
— Oh meu Deus! Estás tão crescida. Estás cada vez mais linda. — Disse Anabeth Jonas sorridente. Levantei-me surpresa por vê-la ali e retribuí o abraço afetuoso do qual já tinha saudades.
— Obrigada Anabeth. Também fico feliz por vê-la. E o Robert? Como está? — Perguntei tentando avistá-lo. Não havia sinais dele. Apenas Anabeth e o meu pai.
— Oh, ele está bem querida. Ele pede desculpas por não ter conseguido vir. Sabem como é. Ele e o trabalho não se largam.
— Claro, eu entendo. — Falei ao perceber que ela estava constrangida com a situação.
— Na verdade eu vim aqui para te agradecer pessoalmente. Por tudo isto. Sei que é uma grande responsabilidade. Não imaginas como te fico agradecida. — Disse com um tom de voz amável. — Eu sei que o Joseph pode ser um pouco difícil de lidar e é por isso que é tão importante que ele abrande um pouco no estilo de vida que leva. Eu só quero a felicidade do meu filho.
Observei a mulher há minha frente e logo em seguida encarei o meu pai com uma expressão confusa. Como é que ela sabia que eu tinha concordado com aquilo? É impossível ela saber disso tão rápido. A não ser que...
— Pai? — Perguntei olhando-o reprovadoramente.
— Algum problema? — Perguntou Anabeth. — Se houver eu...
— Não. Não se preocupe. Está tudo bem. — Disse apressada. Não queria que ela pensasse que eu tinha voltado atrás. — Não precisa agradecer Anabeth. — Falei ao ver o sorriso dela.
A campainha tocou novamente e antes que me pudesse adiantar o meu pai antecipou-se novamente. Mais uma vez não conseguia imaginar quem era e só quando a voz se aproximou é que eu consegui reconhecer. Era Joseph Jonas.
— Olá. — Cumprimentou ele assim que me viu.
Um sorriso malicioso formou-se nos lábios carnudos e eu suspirei já cansada enquanto o olhava de volta, fazendo uma careta de desgosto no caminho. Joseph vestia uma t-shirt um tamanho abaixo do real e usava umas calças de ganga simples, mas que aparentavam custar os olhos da cara. Para completar o visual excêntrico, os ténis e o casaco personalizados saltavam à vista. Era com aquilo que eu ia lidar dali para a frente?
— Joseph. — Disse simplesmente. Melhor não dizer nada do que dizer o que não devo.
— Finalmente chegas-te! Onde te meteste? — Perguntou Anabeth irritada. Joseph olhou-a e sorriu.
— Desculpe, tinha uma ressaca para curar. — Respondeu com graça.
— Joseph! — Repreendeu. Virou-se para mim com uma expressão pesarosa e ajeitando o cabelo acrescentou. — Desculpa pela má educação, ele...
— Mãe, tu fizeste a pergunta. Eu apenas respondi. — Defendeu-se cruzando os braços sobre o peito largo. Sério que ele estava disposto a fazer uma cena na casa do meu pai? Antes que os ânimos se exaltassem mais ainda resolvi intervir.
— Não se preocupe Anabeth. É bom eu começar a habituar-me. — Resmunguei ao olhar Joseph de lado. Ele sorria satisfeito, mas ao mesmo tempo ficava confuso.
— Joseph! Vem. Vamos beber algo. — Exclamou meu pai tentando distrair toda aquela tensão que se formou. Ele rapidamente viu o olhar reprovador de Anabeth e acrescentou. — Algo sem álcool.

-----

— Tudo bem, parem de enrolar. Fala de uma vez mãe. — Resmungou Joseph sentado no sofá individual. Ele claramente não sabia o que estava ali a fazer. Isso vai ser memorável.
— Tudo bem. — Começou Anabeth respirando fundo enquanto alisava sua saia clássica. — A ideia foi minha e do teu pai. Acho que finalmente chegámos a um ponto em que é necessário tomar medidas. E é por esse motivo que vais passar quarenta dias na casa de uma amiga. Eu e o teu pai queremos que tenhas uma pausa na vida que levas. A verdade é que eu acho que estás cada vez mais irresponsável e eu não te criei para agires dessa forma.
— Irresponsável? — Perguntou. Não era uma pergunta direta. Era mais um pensamento próprio. — Não entendo o que queres dizer com tudo isto.
— Eu e o teu pai decidimos que o estilo de vida que levas neste momento, não é certo. Saudável, principalmente. Nós queremos que fiques longe de todas essas festas e amigos falsos. Queremos que passes um tempo de qualidade como qualquer outra pessoa. É um choque de realidade. — Explicou seriamente. Podia ver a irritação na cara dele, mas Anabeth continuava firme. — Pedimos um favor à Demi e ela concordou em nos ajudar. Vais ficar com ela por quarenta dias e vais seguir todas as regras que ela impôr. — Arregalei os olhos ao ouvir aquela parte e afundei mais no sofá. Se eu estivesse no lugar dele teria um AVC.
— O quê? — Questionou Joseph depois de ter entendido como as coisas funcionariam. — Vou ter uma ama-seca?
— Não é uma ama-seca filho. Tu... Estás completamente irresponsável. E inconsequente. Não me parece que saibas o significado da palavra limites e eu e o teu pai queremos parar isso. Este não é o filho que nós educámos. Só queremos o teu melhor. — Explicou com tristeza na voz. Será que Joseph não sabe dar valor ao que tem? Não tenho a certeza se muitos pais fariam o que a Anabeth está disposta a fazer.
— E acham que o melhor para mim é tirar-me tudo aquilo que eu gosto de fazer?
— É um começo. — Respondeu prontamente. — Vão ser apenas alguns dias. Não vais morrer durante esse tempo. Vai-te fazer bem.
— E vai ser com a Demi? — Perguntou ao olhar-me. Sua expressão carregada de confusão e irritação.
— Sim. Ela vai ficar responsável por ti. — Era a primeira vez que o meu pai abria a boca desde que aquela conversa tinha começado e eu não gostava das palavras dele.
— Hum, se for com ela podemos ir agora mesmo. — Respondeu Joseph malicioso novamente. Revirei os olhos perante tal comportamento. Já posso começar uma lista das técnicas de tortura mais eficazes?
— Joseph Jonas! — Exclamou Anabeth. Soava mais como um aviso do que uma repreensão.
— Quando é que vai acontecer a mudança? — Perguntei querendo acabar com aquele drama entre mãe e filho. Não gostava de ver Anabeth entristecida por causa do idiota do filho.
— Amanhã. — Respondeu meu pai com um sorriso satisfeito.
— Amanhã? — Repeti querendo ter certeza. Ele estava louco? Como eu iria explicar ao Travis que tinha que dividir a casa com outro homem em menos de quarenta e oito horas?
— Algum problema Demi? — Perguntou Joseph com aquele sorriso endiabrado que me irritava profundamente.
— Nenhum. — Respondi com um sorriso forçado.
Seja o que Deus quiser.

Sem comentários:

Enviar um comentário