03/07/2014

Como se Apaixonar em 40 Dias - 4º Capítulo


Suspirei e abri a porta do carro enquanto ouvia Zeus ladrar atrás de mim. Mandei-o ficar quieto e segui em direção à loja de conveniência da cidade. Eu sabia que era perigoso vir aqui a uma hora destas, mas não me restava outra hipótese. Eu tinha acabado de adotar um cachorro e ele tinha que se alimentar de alguma coisa. Peguei o que precisava e algumas coisas extras como Doritos, guloseimas e derivados. Tudo bem, não era apenas por causa de Zeus que eu ia até li em plena uma da manhã. Eu estava na fossa e precisava me cuidar. Deixei tudo em cima do caixa e meio que me encolhi ao receber uma encarada do homem bronco que passava as coisas com uma lentidão arrastada.
— Você é corajosa. — Disse com um sorriso malicioso.
— Pode ser um pouco mais rápido? Eu realmente tenho pressa. — Pedi tentando ser educada.
— Não boneca, não posso. — Negou mascando um chiclete da forma mais nojenta e perversa possível. Olhei para a porta ao ver um grupo de motoqueiros entrarem e arrepiei ao escutar alguns assobios.
— Vou levar isto aqui também. — Coloquei uma garrafa de tequila em cima da bancada e ignorei o olhar surpreso do atendente.
Agradeci aos céus quando finalmente me despachei e quase corri até ao carro enquanto escutava risadas e cantadas podres de típicos protótipos masculinos. Entrei no carro e segui viajem até casa com Zeus colocando o focinho pra fora da janela. Eu não sabia como ele fazia aquilo. Tinha uma elasticidade incrível para um recém-nascido. Certo, não exatamente recente. O cachorro já devia ter pelo menos um mês. Mas era incrível.
Suspirei ao virar a esquina para a minha rua e abrandei a velocidade enquanto soluçava alto. As lágrimas escorriam por minha face e a minha roupa parecia ter sido enrolada por uma rede de pesca de tão engelhada que estava. Doía como os infernos e eu nunca imaginei que diria isto, mas...
— Fodasse! — Gritei batendo com as mãos no volante. Zeus ladrou e o carro desalinhou e logo voltei a agarrar o volante, assustada. — Desculpa. — Pedi a Zeus que se sentava no banco do carona. Sua pose era extremamente direita. Ele era um rei. — Você gostava dele? — Perguntei referindo-me a Travis. Zeus rosnou e eu olhei-o brevemente. — É, eu também gostava.
Limpei as lágrimas da melhor forma que pude e voltei a acelerar para chegar rápido a casa. Quando estava perto vi carros desconhecidos ali parados e uma música alta tocava. Segui em frente com o pensamento de que algum vizinho adolescente estava se divertindo mais do que eu e imediatamente travei o carro. Raridade. Nunca havia festas no bairro. Sempre que havia a policia estava presente e não era para festejar junto. Dei marcha à ré e estacionei de qualquer jeito no pouco espaço livre no passeio. Esfreguei os olhos e olhei para a minha casa invadida por animais rafeiros suicidas. Mau dia. Muito mau dia! Joseph, você morre!
Peguei o saco da loja de conveniência, chamei Zeus e saltei para fora do carro. Caminhei a passos firmes até à porta de casa e praguejei por encontrá-la entreaberta, à mercê de qualquer ladrão. Eu já sentia raiva de Joseph Jonas, mas ainda havia sentimentos bons mínimos. Agora qualquer um desses sentimentos bons que pudessem existir transformaram-se em ódio mortal. Parei na porta da sala e olhei em volta inspecionando o local.
Quatro aliens invadiam o meu espaço e não estavam se preocupando de quem era. Dois jogavam na minha Xbox entre empurrões e cervejas, e os outros dois, Joseph incluído, conversavam animadamente. Havia bebida por todo o lado, roupa espalhada, pizza e todo o tipo de coisa irracional que se podia encontrar. Com um pouco de paciência, e se fosse aos locais certos, tenho a certeza que também iria encontrar um cadáver.
Um idiota que eu desconhecia veio até mim e eu encarei-o com um olhar de dar medo. Ele não se abalou e isso me deixou mais frustrada.
— Oi, você deve ser a Demetria o Joseph falou...
— O Joseph vai morrer. — Interrompi com ódio. Olhei o demónio que agora me olhava também e vi-o dar um meio sorriso tímido. Qualquer mulher no mundo diria que ele era fofo e estava na minha, mas tudo o que eu conseguia imaginar era o imbecil aos abraços com Megan e Travis no seu mundinho rico e perfeito. Ah claro, e sangue!
Atravessei a sala com todos os olhares em mim e vi Joseph livrar-se da cerveja para o amigo antes que eu chegasse nele. Estendi meus braços e tentei apertar o pescoço do desgraçado que achava piada ao meu surto. Ele ria da minha reação e eu apenas lhe dei um tapa forte o suficiente para ouvir o seu pescoço estalar. A música parou, o jogo parou e Joseph me olhou confuso e irritado.
— Qual é o seu problema? — Perguntou levando a mão ao lado vermelho do rosto.
— O MEU PROBLEMA É VOCÊ! — Gritei empurrando-o contra a parede. Estapeei-o no peito e senti mãos me agarrarem. — VOCÊ SABIA ESTE TEMPO TODO! — Tentei me soltar do idiota que me agarrava, mas de nada adiantava. Eu poderia matar Joseph que não iria me arrepender. — VOCÊ SABIA E NÃO ME FALOU!
— EU NÃO SEI DO QUE ESTÁ FALANDO! — Gritou me fazendo parar. A minha respiração estava completamente ofegante e os meus olhos voltaram a arder. Minha garganta pareceu ficar mais estreita e senti-me ser solta cuidadosamente.
— Nunca achei coincidência o fato de você conhecer Travis. Quando você me perguntou o sobrenome dele, eu sabia que algo estava errado. E há apenas algumas horas atrás, quando eu achei que você estava realmente tentando me ajudar, você já sabia de Megan. O tempo todo, desde a sorveteria. Porque não me contou? Hein? Porque não teve um pingo de vergonha na cara e me disse que Travis estava me traindo? Você acha mais engraçado me deixar seguir um caminho para o inferno? Está feliz Joseph? — Perguntei vendo-o suspirar enquanto olhava o chão.
— Eu não...
— Você o quê? — Incentivei. — Vai me dizer que não sabia?
— Ai é que está Demetria. Eu não sabia. — Disse elevando o tom de voz. Ele estava estranhamente calmo e isso me irritava.
— Mentiroso! Idiota! — Xinguei batendo nele. — Eu sei que você sabia. Travis falou que conheceu Megan numa de suas festas de menininhos ricos e filhinhos do papai. Você sabia que ela era tudo menos prima do idiota. — Disse nervosa. Respirei fundo e tentei me acalmar.
— Espera, foi isso que ele disse para você? Que ela era prima? — Perguntou surpreso.
— Porque está surpreso? — Questionei de volta.
— Por que... — Ao ver a sua auto-interrupção senti a minha consciência pesar. Eu tinha acreditado nas mentiras de Travis uma vez e talvez tivesse acreditado de novo quando ele me induziu em algo que eu não tinha certeza. E se Joseph realmente não soubesse? Senti lágrimas nos olhos e olhei o chão como uma criança pequena. — Vem cá. — Pediu me dando a mão e me puxando até o sofá. Os rapazes logo deram espaço e sentaram à nossa volta.
— Quem são eles? — Perguntei olhando-os. Eu devia estar uma lástima.
— Brandon, Michael e Kyle. — Respondeu.
— Certo.
— Escuta, — Pediu me fazendo olhá-lo. — eu não sabia que o seu namorado...
— Ex. — Interrompi.
— Hã?
— Ex-namorado Joseph. Você acha que eu não quebrei a casa do desgraçado? — Perguntei como se fosse óbvio. Ouvi as risadas deles pela na sala.
— Não me surpreende. — Disse com um olhar orgulhoso. — O que eu estou tentando explicar é que sim, eu já conhecia Travis de uma festa que dei há pouco mais de um ano. Na verdade, todos aqui conhecem. Ele é amigo de um ex-amigo nosso que deixou de se dar com a gente. Ele entrou por afinidade e sim, eu o vi com Megan. Sabia que não eram primos, mas nunca imaginei que ele estivesse fazendo isso com você. Eu fiquei surpreso quando os vi juntos na sorveteria no outro dia. Então sim, eu sabia que eles se conheciam, mas não, eu não sabia que eles estavam envolvidos. — Explicou com um meio sorriso.
— Ótimo, agora estou me sentindo duplamente idiota. — Confessei com um suspiro.
— Não se preocupe com isso. — Disse tentando me tranquilizar.
— Joseph, seu pescoço está marcado com as minhas unhas, minha mão está desenhada em seu rosto e seus amigos ainda pensam que sou alguma espécie de bomba-relógio. — Falei. Eles riram de novo e eu olhei-os atentamente. — O que eles estão fazendo aqui afinal? — Perguntei me lembrando da música alta.
— Vieram me visitar. — Explicou rapidamente.
— Você quebrou as regras Joseph! — Acusei. — Eu disse, sem peguetes, sem sexo aqui em casa, sem saídas à noite e sem festas! — Numerei. Os garotos arregalaram os olhos e Joseph piscou.
— Eu não quebrei regra nenhuma. — Disse estufando o peito com um ar vitorioso. Continuei olhando-o como uma idiota e esperei a explicação. — A única mulher gostosa aqui é você e você não é peguete alguma. Não há sexo aqui e eu não saí de casa. Eles é que vieram até mim. Isto não é uma festa, mas sim um convívio social.
— Tudo bem. Eu vou esquecer que você de um momento para o outro ficou inteligente. — Disse fazendo os rapazes rirem menos Joseph que fechou a cara. — Você é o Kyle, né? — Perguntei apontando para o homem tatuado ao meu lado.
— Sim. — Confirmou sorrindo.
— Pega esse saco para mim? — Perguntei apontando para o saco da loja de conveniência que tinha ficado ali esquecido. Chamei Zeus assim que peguei o saco e ele logo saltou para o colo de Joseph que se assustou, mas sorriu.
— De onde você conseguiu esse cachorro? — Perguntou fazendo carinho em Zeus que parecia ter entrado no paraíso. Tirei a ração dele do saco e entreguei para o animal de duas pernas que logo começou a alimentar o meu pequeno herói.
— Era o cachorro do Travis. — Falei sorrindo para Zeus que era paparicado por todas as mãos naquela sala.
— Desculpe perguntar, mas eu fiquei curioso. O que você fez exatamente? — Perguntou Brandon.
— Não tem problema. — Disse com um meio sorriso. Tirei o pacote de Doritos do saco e respirei fundo enquanto me descalçava e enrolava as pernas por baixo de mim. — Depois de entrar no apartamento dele totalmente confiante de que ia conseguir resolver as coisas, encontrei a Megan cavalgando Travis como uma égua desengonçada. — Contei. Comi umas três batatas de uma vez sem me preocupar em ser educada e continuei. — Sai do quarto e voltei para a sala moderna do idiota. Depois de algumas revelações, uma delas que me fez pensar que Joseph estava no meio de tudo isso, dei a louca e avisei que o peso dos chifres que ele me tinha posto ia ser o mesmo peso que ele ia ter na carteira dele.
— O que você quis dizer? — Perguntou Michael.
— Quebrei os jogos, os CD’s, os DVD’s, o Xbox, a Tv e por aí vai. Acho que até o meu salto agulha eu quebrei. — Disse fazendo uma careta. Peguei no botim preto e analisei-o, atirando-o para o chão em seguida. — Também não tem problema já que foi ele quem pagou! — Falei. — Mas Zeus foi o verdadeiro herói.
— O que você fez garotão? — Perguntou Joseph ao cachorro. Zeus latiu e abanou a cauda num gesto feliz e eu ri.
— Ele mordeu Travis num lugar muito sensível. — Contei gargalhando em seguida.
— Diga que está brincando! — Exclamou rindo tanto como eu. — É, Zeus, você foi herói. — Disse recebendo uma lambidela do animal. — E você? Onde esteve até esta hora? — Perguntou me olhando sério. Estranhei-o, mas respondi mesmo assim.
— Andando por ai. Refresquei as ideias e depois passei numa loja de conveniência antes de vir para casa. Afinal, eu não tinha comida para Zeus. — Expliquei. Joseph adotou um olhar zangado e eu encarei-o confusa. — O que foi?
— Você é louca de ir a uma loja de conveniência a uma hora destas?
— Joseph, nem comece. — Avisei revirando os olhos e tirando a garrafa de tequila do saco. Antes que eu pudesse abrir a garrafa, Joseph puxou-a de mim e eu retruquei o olhar furioso que ele tinha. — Porque fez isso?
— Você não vai beber. — Decidiu. Ri da expressão dele e tentei puxar a garrafa de volta.
— Você por acaso é meu pai? — Perguntei quando ele entregou a garrafa a Brandon.
— Não sou seu pai, mas decido que você não vai beber.
— Fala o garoto mimado que passa cinco dias por semana bêbado e dois ressacado. — Ironizei.
Fez-se um silêncio tenso na sala e vi que todos me olhavam surpresos. Todos exceto Joseph. Eu não menti. Falei a verdade. Não é?
— É isso que você acha? — Perguntou quebrando o silêncio.
— É isso que eu ouvi dizer. Você não provou ser muito diferente desde o domingo passado.
Vi Joseph fechar a boca para conter alguma frase que eu provavelmente não iria gostar e vi-o largar Zeus ao meu lado ao mesmo tempo em que me devolvia a garrafa.
— Você quer ser igual a mim, ótimo! — Falou antes de virar as costas pelo meu quarto adentro e fechar a porta com força. Estremeci com o impacto, mas fingi que não era nada comigo.
Sorri para Zeus e abri a garrafa satisfeita. Quem Joseph pensava que era? Meu irmão? Meu pai? Nenhum deles! Eu sou uma adulta responsável que tem tudo o que sempre desejou na vida. Tudo menos o namorado. Ouvi um dos garotos chamar o meu nome e voltei a olhá-los. Todos eram parecidos e todos eram diferentes. Brandon tinha olhos azuis como água e os cabelos castanhos aloirados estavam cortados bem rente nos lados, formando um topete em cima. Já Kyle tinha o cabelo loiro e diferentes tatuagens espalhadas pelos braços. Michael parecia ser o mais amigável do grupo, mas nada batia Brandon que tinha um sorriso molha-calcinha no rosto. Também era o que estava mais à vontade. Todos eles tinham uma boa estrutura física, o que eu acredito ser resultado de muitas horas na academia, e todos me olhavam da mesma forma. Era o olhar de “Você fez merda Demetria!”.
— O que foi? — Perguntei suspirando. Brandon sentou-se ao meu lado e puxou Zeus para si.
— Você não acha que foi um pouco dura com ele? — Perguntou Michael com um meio sorriso. Revirei os olhos. Eu sabia onde isso ia dar.
— Não, eu não acho. Não menti no que disse. — Respondi cruzando as pernas em cima do sofá.
— Bem, não mentiu, mas também não foi justa. — Disse Kyle.
— Como assim? — Questionei agora confusa. Onde eles queriam chegar afinal?
— Joseph não é tudo isso que você pensa que conhece. Tem mais dele. — Explicou Brandon.
— Mais ruim? — Perguntei arqueando a sobrancelha.
— Não. — Disse Michael sorrindo. — Mais legal.
— Não devemos estar a falar do mesmo Joseph. — Falei brincando com a tampa da garrafa.
— Você já pensou em dar uma chance para ele? — Perguntou Nicholas.
— Ele não pediu uma chance para nada. — Disse confusa. Bebi um pouco da bebida alcoólica e fiz uma careta de desgosto. Olhei novamente os garotos que me encaravam esperando uma ação e revirei os olhos dando mais um gole do meu veneno. Voltei a fazer uma careta e entreguei a garrafa a Kyle. — Toda vossa. Essa coisa é nojenta. — Falei me levantando.
— Você vai...
— Sim Brandon, eu vou me desculpar com Joseph Jonas. A minha consciência está pesando.

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Abri a porta do quarto e fechei-a depois de entrar no mesmo. Vi Joseph deitado na minha cama entretido com a minha bola de cristal. Sorri timidamente quando ele me olhou e deitei na cama ao lado dele. Não abri a boca para dizer uma palavra e ele também não o fez. O silêncio estava estranhamente confortável, mas algo me corroía. Maldita consciência!
— Me desculpe. — Pedi de uma vez enquanto encarava o teto.
— Por que está se desculpando? — Perguntou confuso. Podia sentir seu olhar em mim, por isso continuei encarando o teto.
— Por ter falado de mais. Mesmo que seja verdade, ou não, eu não tinha esse direito. — Expliquei.
— Tudo bem. — Disse baixo. — Eu me estressei fácil de mais. A bebida já deve estar fazendo efeito.
— Bem, você quis cuidar de mim. Certo? — Perguntei olhando-o brevemente. — Isso faz de você um bêbado consciente. — Disse sentindo o meu rosto queimar. Fiquei com receio de ele entender errado e logo tentei explicar. — Quer dizer, você mostrou-se preocupado e...
— Demetria, — Chamou me interrompendo. — relaxa. Sim, eu estava tentando cuidar de você. Não gostei do fato de saber que você andou por aí este tempo todo e... É perigoso, sabe?
— Sei. — Afirmei com um meio sorriso.
Senti uma grande onde de nostalgia tomando conta de mim e suspirei profundamente enquanto fechava os olhos. Percebi que Joseph se virava na cama e virei-me também, ficando de frente para ele. Encarei-o atentamente e pela primeira vez desde que o encontrara, reparei na beleza dele. Sim, Joseph era bonito. Os cabelos escuros e fortes eram selvagens e desgovernados. Sua pele era bronzeada por natureza e suas feições eram bem delineadas. Mesmo tendo reparado em cada pedaço do seu rosto, foram os olhos que me chamaram mais a atenção. Eram de uma cor incomum e ao mesmo tempo despercebida. O castanho era uma mistura de mel com âmbar e o brilho deles era extremamente difícil de encarar. Eram olhos intimidantes que conseguiam fazer uma garota corar.
— Está doendo? — Ouvi-o perguntar baixinho. Despertei do breve transe em que entrei e pensei uns segundos antes de responder.
— Sim. —Afirmei me encolhendo. Joseph não disse nada e eu fiz o que nunca imaginei que fosse fazer logo com ele. Desabafei. — Ele esfregou tudo na minha cara. Ele me usou. — Falei sentindo os meus olhos arderem. — Mesmo agora que o dia dos namorados chegou. Eu... Não entendo a razão de ele ter feito o que fez.
— Ele foi um idiota com você Demi.
— É, ele foi, mas eu não entendo o porquê! Eu estou gorda? — Perguntei apertando a pele da minha barriga reta.
— Não, você não está. — Respondeu.
— Será que sou má na cama? Ele nunca se queixou! — Acusei.
— Bem, isso eu não sei, mas duvido que você seja má de cama. — Disse com um sorriso malicioso. Bati em seu braço e sorri.
— Eu realmente não entendo o motivo de ele me ter traído. Eu dei tudo pra ele. Foram dois anos Joseph. Neste momento sinto que foi tudo uma perda de tempo. — Concluí brincando com a bola de vidro que estava entre a gente.
— Você vai superar. — Disse afastando uma mecha de cabelo que caiu em meu rosto. — Você é uma mulher forte, independente capaz de conquistar o mundo. Você pode ter tudo o que desejar. — Ouvi-o dizer. Senti o meu peito encher-se de conforto e sorri feliz por ele estar ali comigo.
— Obrigada. — Agradeci. — Sinceramente nunca imaginei que de entre todas as pessoas no mundo, fosse você quem me apoiaria. Obrigada, de verdade.
Joseph assentiu e eu fechei os olhos enquanto sentia nossas mãos se roçarem na bola de vidro. O silêncio instalou-se mais uma vez e desta vez consegui sentir o meu corpo relaxar. Eu ia superar Travis. Sabia que iria. A fossa era apenas esta noite e nada mais. Eu não podia me rebaixar desse jeito.
— Demi. — Ouvi Joseph chamar. Abri os olhos e esperei que ele falasse. — Porque é que o dia dos namorados é tão importante assim para você? — Pensei por uns segundos a sorri ao me lembrar do por quê.
— Desde que eu era pequena minha mãe ligou muito para o dia dos namorados. Era o dia preferido do ano para ela, então a nossa casa virava uma festa com balões, bolos e tudo o que você pode imaginar. Eu também não entendia até que ela me explicou o porquê de gostar tanto desse dia. — Expliquei com um sorriso.
— Posso saber qual era o motivo? — Perguntou curioso.
— Ela dizia que era porque o mundo virava um lugar mais bonito. As pessoas pareciam parar de correr na vida agitada do trabalho e começavam a dar importância ao que realmente importa. Ao que mais precisamos. Ela amava sair à rua e ver casais apaixonados. Ela gostava de ver pedidos de casamento, pedidos de namoro ou até mesmo o gesto mais simples que um garoto pode fazer a uma menina. Meu pai sempre a cortejava. Pedia-a em casamento todas as manhãs e paparicava-a todo o santo dia. Ele sabia que ela era doida por tudo o que fosse corações e flores. Ela ficava sempre ansiosa e distribuía a energia por toda a casa. Era realmente contagiante. — Falei rindo ao lembrar o sorriso dela. Joseph sorria também e eu entendi que o efeito era o mesmo de sempre. Tão familiar. — Ela sempre me dizia que o melhor presente que se pode dar a uma garota no dia dos namorados é um beijo.
— Porquê um beijo? — Dei de ombros, mas mantive o sorriso.
— Ela dizia que era o gesto mais carinhoso, delicado e verdadeiro de um garoto. — Falei. — É claro que eu tinha dez anos quando ela dizia isso para mim. Agora sei que já não é mais assim, mas... Faz sentido pra mim ainda. — Expliquei com lágrimas nos olhos. — Acho que herdei isso dela. Tomei o gosto e é por isso que é tão importante para mim. Porque era importante para ela. — Disse limpando uma lágrima que escorreu. Eu não sabia o porquê de estar falando sobre a minha mãe para Joseph, mas eu me sentia bem falando dela para ele.
— Você sente muito a falta dela? — Perguntou acariciando o meu cabelo. Assenti em resposta e permaneci em silêncio. — Feliz dia dos namorados Demetria. — Ouvi-o sussurrar.
Olhei para Joseph confusa e só percebi o que ele queria fazer quando o senti tocar minha bochecha com o polegar. Vi-o aproximar-se vagarosamente e estremeci ao sentir sua respiração quente em meu rosto. De um momento para o outro senti minha cabeça girar e uma repentina vertigem se apoderou de mim. Fiquei nervosa, mas não recuei. Acho que isso foi um passe livre para o objetivo dele e logo o senti tocar meus lábios com os seus. Ele era delicado, quieto e doce. Suspirei ao segurar seu braço e deixei que acontecesse.
Correspondi à pressão suave de seus lábios nos meus e prendi a respiração quando Joseph deslizou seus dedos por minha nuca, me aproximando mais dele. Sua língua invadiu minha boca e eu estremeci com o contato úmido e quente. Meu coração começou a acelerar de uma forma estranha e senti o ar começar a ficar escasso. Parecia ser pouco para o que o meu corpo mostrou desejar, e pelo tempo ser pouco é que eu deixei de me conter e devolvi o beijo com a mesma intensidade que ele. Estava errado. Eu não devia estar beijando Joseph Jonas, mas era bom. Suas mãos enormes pareciam suportar toda a minha mente e seus lábios sugavam qualquer sofrimento ou mágoa que eu pudesse estar sentindo. Eu apenas sentia alegria, carinho, delicadeza e verdade. Era como a mamãe dizia. Era gostoso.
E de um momento para o outro foram ouvidas batidas na porta do quarto. De um momento para o outro tudo terminou.

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